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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

MESTRE COBRINHA



MESTRE COBRINHA
UM GUERREIRO À FRENTE DO QUILOMBO



O dia quatorze de Janeiro de mil novecentos e setenta e nove marca os primeiros passos de Edmilson dos Santos – Cobrinha - na capoeira, o início foi conturbado, já que a sua família marginalizava a arte. Aos quatorze anos saiu de casa e refugiou-se num circo, anos mais tarde, ingressou no Exército brasileiro – A escola da ordem e da disciplina. Em pleno dia das mães bateu à porta "o filho pródigo"; retornou a casa donde saiu com a cabeça erguida e centrada nos seus objetivos e não fora visto como o "marginal" que pressupunham, mas o guerreiro à frente da batalha - o líder da sua trilha.

A capoeira sempre foi a sua paixão, seguindo-o desde as rodas no antigo Mercado Sete Luz - as rodas realizadas na Associação Desportiva e Cultural de Capoeira Guerreiros do Quilombo. Especializou-se na arte capoeira, ministra cursos e palestras – dentro e fora do Brasil, além de desenvolver e participar de projetos sociais voltados à disseminação da cultura Afro-brasileira. O menino cobrinha cresceu, tornou-se Mestre e ícone importante da capoeira, conquistando no campeonato brasileiro realizado em São Paulo o título de terceiro melhor capoeirista do Brasil.


ENTREVISTA COM O MESTRE COBRINHA

O QUE É A CAPOEIRA?
- Capoeira pra mim é luta, arte, esporte, lazer, educação, é vida. A capoeira é o meu meio de sobrevivência.

VOCÊ VIVE DA CAPOEIRA?
- Vivo de capoeira.

COMO SURGIU A SUA PAIXÃO PELA CAPOEIRA?
- Em 79, tinha um mercado – Hoje Tales Ferraz- mas era chamado de Mercado Sete Luz, na época o mercado Sete luz era  Rua Santa Rosa, e ali, foi a primeira roda de capoeira que eu vi, Dalí eu já me contagiei – tomou conta de mim até hoje. Nessa trajetória capoeirística, só vou parar quando eu morrer.

DIFICULDADES?
- Falta de apoio, valorização da própria comunidade – comunidade brasileira – não falo nem no bairro América – comunidade do Brasil. Agente tem que se dar valor pra depois valorizar alguém de fora. Então, aí tem  a situação da valorização. Então, alguns obstáculos que agente enfrenta: a valorização, apoio – principalmente dos governantes- quem pode nos apoiar cruza os braços. É difícil viver de capoeira. Eu vivo de capoeira, porque na capoeira eu me viro nos trinta, vendo berimbau, pandeiro, blusas...

QUANDO VIAJA PARA DIVULGAR A CAPOEIRA DENTRO E FORA DO BRASIL, RECEBE PATROCÍNIO?
- Eu como brasileiro me decepciono  com o Brasil, entendeu? – INFELIZMENTE- Porque a aceitação fora do país com a capoeira é boa. O brasileiro que sai daqui pra lá não quer mais voltar pro Brasil.
...
O POVO BRASILEIRO É PRECONCEITUOSO?
- ah, sem dúvida nenhuma, principalmente o preconceito com a sua própria cultura, né? Quando agente não conhece o que é nosso tem que buscar e procurar conhecer pra poder saber se defender. As pessoas ainda têm preconceito, falam de algo que não conhecem. Como você vai falar de ou elogiar algo que não conhece?

JÁ PENSOU EM ALGUM DIA PARAR DE PRATICAR A CAPOEIRA?
- Não. Essa pergunta já passou na minha mente, mas eu acredito que não vou parar. Quem vai dar um freio nisso aí é o pai maior – nosso senhor Jesus Cristo – Quando chegar a hora da realidade – que é a morte – vai dar um freio, mas não vai impedir que esse trabalho do mestre cobrinha continue vivo.

QUAL A RELAÇÃO ENTRE MESTRE COBRINHA E OS PROJETOS SOCIAIS VOLTADOS PARA A CAPOEIRA?
- Surgiram projetos – e não projetos de capoeira – Projetos sociais onde eles contratavam professores de capoeira, dança, hip hop, futebol... Então, são projetos sociais e não projeto totalmente voltado à capoeira. Eu tenho um projeto próprio que se chama Sementes do Amanhã, mas ainda tem que passar por toda tramitação pra saber se ele foi aprovado ou não. E hoje, agente trabalha com projetos sociais que vem da prefeitura, vem do governo federal, do governo do estadual, mas que não é exclusivamente – especificamente- pra capoeira. São projetos para a comunidade. É o caso do PELC – Programa de Esporte e Lazer da Cidade – é um programa do ministério dos esportes.


O QUE MAIS LHE ENTRISTECE?
- O que mais me entristece é a falta de apoio do público – do povão. Esse povo que apóia os políticos deveria apoiar a gente. A capoeira é nossa. Patrimônio cultural do povo brasileiro. Você pode ser forte, mas alguém tem de estar ao seu lado, se o público não te apóia... Você cai. A capoeira não precisa de ninguém, pelo contrário, o povo precisa da capoeira. Hoje a capoeira está nas melhores Universidades do mundo.





"A capoeira me completa, mas eu não completo a capoeira".

sábado, 4 de dezembro de 2010

A IDENTIDADE CULTURAL - EM QUESTÃO

           
          Este trabalho refere-se às propostas previstas pela disciplina optativa Identidades Culturais na  Pos Modernidade, do curso de Letras Português e Respectivas Literaturas da Faculdade São Luís de França, ministrada  pela professora Doutora Vilma Mota Quintela. Ele foi realizado pelas acadêmicas Ana Moura, Deise Cristiane e Maria Tamires, durante o presente período acadêmico. 
      A pesquisa de campo promoveu-nos um aprendizado mais incisivo e dinâmico. E, através da entrevista com o mestre de capoeira Cobrinha, podemos perceber as dificuldades de um profissional que dissemina a cultura e contribui para a manuntenção da identidade cultural em questão, o que nos ajudou a conhecer    a   trajetória deste ícone cultural, a sua postura social e ética.
         Apesar de todo o legado artístico, ele não recebe a valorização e o reconhecimento merecidos profissionalmente.  Por isso, utilizamo-nos deste blog como ferramenta de divulgação do trabalho do mestre Cobrinha, destacando-o como fonte cultural enquanto um estudioso da arte secular e divulgador a nível global do histórico da capoeira - a arte - luta desenvolvida no Brasil pelos negros trazidos da África.    
          Baseando-se na teoria de Stuart Hall, o primeiro “infectante” da identidade cultural é a nacionalidade e cultura local em que o homem é inserido desde o nascimento. Percebe-se que o indivíduo é identificado pela parte do globo terrestre onde ele nasce, imprimindo nele marcas sociais que remetem aspectos culturais -desprendidos de qualquer pressuposto genético. Entretanto, a conectividade entre o indivíduo e a nacionalidade é intrínseca - e politicamente falando importante para produzir um significado histórico-cultural para o ser humano, além de criar um mecanismo de organização e padronização social, a exemplo do “sistema educacional” e a “língua vernacular como meio dominante de comunicação em toda nação”.
            Tirando as máscaras da cultura nacional, matando o instinto forçado de veneração a pátria e despindo a identidade refletida nos símbolos, têm-se fios – visíveis a poucos – que manipulam as ações e virtuam “a concepção que temos de nós”. Atrás dos filmes da história nacional – além de produção - existe “a cadeia da ideia”, em que o indivíduo esta voltado ao reflexo de outrora e condicionado a abraçar as identidades da sua cultura - seguindo as sobras do passado imortal. O poder da sociedade esta concentrado num controle remoto de identidades culturais; tudo que pensamos e fazemos é previamente imaginado e programado; Benediet Anderson (1983) diz: a identidade nacional é uma “comunidade imaginada”.
            O mecanismo de controle das identidades culturais consiste-se primordialmente em disseminar a história nacional através dos dispositivos de mídia, tornando-a viva, enraizada e bem regada, e assim, concedendo significado e importância a existência humana, frisando a ênfase as origens e a continuidade das tradições. Deve-se ter em mente três conceitos ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como uma “comunidade imaginada”: as memórias do passado; o desejo por viver em conjunto; a perpetuação da herança.
          A metodologia aplicada constituiu-se em: Entrevista com o mestre Cobrinha, filmagem, fotografias, pesquisas na internet e leitura de livros durante a disciplina de Identidades Culturais sob a orientação da professora Vilma M. Quintela, abordando discussões teóricas e breves considerações - na perspectiva de Stuart Hall - acerca das Identidades Culturais na pós modernidade.


Palavras-chave: identidade cultural, capoeira, Mestre Cobrinha.